quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

"Charlie Hebdo: uma carta para meus amigos britânicos"

É importante compreender o papel que a revista cumpria para a esquerda francesa, ao invés de julgar seu conteúdo fora de contexto



                                                                 Photograph: Miguel Medina/AFP

É importante compreender o papel que a revista cumpria para a esquerda francesa, ao invés de julgar seu conteúdo fora de contexto
Por Olivier Tonneau
A onda de compaixão com a qual nos deparamos frente ao ataque ao Charlie Hebdo não durou muito. Logo em seguida, todo o tipo de crítica começou a correr pela internet contra o semanário, o qual foi descrito como islamofóbico, racista e até mesmo sexista. Incontáveis outros comentários afirmaram que os muçulmanos estariam sendo excluídos e envergonhados. Ao fundo espreita a imagem de uma França fundada sobre o “mito” da laïcité, definida como uma restrição contundente da religião à esfera privada, mas terrivelmente islamofóbica. Como francês e militante radical de esquerda vivendo no Reino Unido, eu fiquei intrigado, e até mesmo chocado, com esses comentários, e gostaria de, assim, oferecer uma exposição clara de qual seria minha posição de esquerdista francês acerca destes assuntos.
Em primeiro lugar, algumas palavras sobre o Charlie Hebdo, o qual tem sido “analisado” na imprensa britânica apenas por meio de umas poucas caricaturas selecionadas. Certamente seria interessante saber que, em primeiro lugar, o maior alvo do Charlie Hebdo era o Front Nacional e a família Le Pen. Em segundo lugar, toda a sorte de picaretas, incluindo patrões e políticos (a propósito, uma das vítimas da chacina era um economista que escrevia semanalmente acerca dos disastres causados pelas medidas de austeridade na Grécia).
Charlie Hebdo foi um inimigo de todas as formas de religiões organizadas, no estilo anarquista old-school: Ni Dieu, ni maître! O semanário ridicularizava o Papa, os judeus ortodoxos e os muçulmanos por igual e com o mesmo tom mordaz. Quando dos bombardeios a Gaza, assumiu uma posição de forte denúncia. Charlie Hebdo também propagandeou as pautas das minorias e fazia um campanha ininterrupta para que fosse cedido visto de permanência a todos os imigrantes ilegais. Mesmo que a forma de seu humor desagrade, por favor acredite quando eu digo: ele estava de acordo com a tradição francesa de sátira – e, afinal de contas, era pensado justamente para uma audiência francesa. Eu espero que isto ajude a entender que se você pertence à esquerda radical, você perdeu valiosos amigos e aliados.
Tendo esclarecido isto, o ataque torna-se ainda mais trágico e absurdo: dois jovens franceses muçulmanos, de ascendência árabe, não invadiram os numerosos jornais de extrema direita que existem na França (Minute, Valeurs, Actuelles), jornais que sem cessar atacam árabes e muçulmanos, mas atacaram aquele mesmo jornal que fazia o máximo para enfrentar o racismo. E, para mim, a única questão que isto especificamente levanta é: como podem estes jovens ter chegado a este ponto de confusão e loucura? O que gera a fúria fundamentalista?
Uma amigo me disse que era o “ocidente bombardeando os países árabes”. Eu desconfio dessa sentença, que mais parece uma inversão da teoria do “choque de mundos” de Samuel Huntington: o mundo ocidental versus o mundo árabe. Não são o ocidente nem o oriente blocos homogeneos, e o primeiro passo para entender o fundamentalismo é reconhecer que o lugar que o Islã é sim contestado no oriente, da mesma forma com que o lugar do Cristianismo é contestado no ocidente.
Em qualquer lugar do mundo, o espaço para a existência de direitos individuais só tem sido conquistado com o deslocamento da religião. Poucas pessoas mesmo nos dias de hoje sabem que houve um periodo, começando na metade do século 19 e indo até a metade do século 20, chamado Nadha (Renascimento ou Renascença), o qual viu uma ampla gama de processos de secularização desde Marrocos até a Turquia. Poucas pessoas se importam se lembrar que nos anos de 1950 e 60 as mulheres que usavam o véu eram uma pequena minoria na Tunis, Argélia, e até mesmo no Cairo. Mas atenção: isto não significa que não fossem muçulmanas. Da mesma forma, no ocidente, onde muitas garotas cristãs começaram a fazer sexo antes do casamento ou a tomar anti concepcionais, os valores foram se transformando, com algumas tensões inevitáveis.
Os movimentos anti-coloniais no antigo império francês foram seculares: eles tinham como intenção a criação de Estados-Nações modernos, independente da tutela de exploradores ocidentais. Dessa forma, na Argélia o Front de Libération Nationale estava lutando pela criação do Estado Popular e Democrático da Argélia (observe aqui o toque distintivamente comunista). Ainda assim, o caos que emergiu durante as guerras de independência (pelas quais o ocidente é claramente responsável) providenciou um terreno fértil para os fanáticos, que tinham grandemente ressentido a evolução de seus países, a retornar à notoriedade com a vingança.
A violência destes fantáticos por diversas vezes levou os argelinos a imigrar para a França, e até hoje eles abominam aqueles fundamentalistas que que roubaram seu Estado secular.
Mas devemos ser claros: fundamentalismo não originou o êxodo dos países muçulmanos. Muçulmanos migravam para a França já em 1950 e a questão do fundamentalismo só tem surgido nos últimos 15 anos. A França tem uma antiga tradição de Islã secular, totalmente compatível com as leis da república, mas em guerra contra os fundamentalistas. Nos anos 1990, o Ímam de Paris foi baleado por fanáticos cuja violência ele denunciara, e, mais recentemente, o Ímam de Drancy, que expressava desgosto pelas caricaturas do Charlie Hebdo, mas firmemente denunciava a fatwa expedida contra o jornal pela al-Qaida, foi ele próprio condenado à morte por organizações terroristas e está vivendo sob proteção policial.
Fundamentalismo é algo novo, que exerce um fascínio na juventude francesa desenraizada em geral – e não em muçulmanos em geral. A geração de muçulmanos francesa mais velha está horrorizada por esse fundamentalismo: depois da chacina no Charlie Hebdo, Ímams exigiram que o governo tomasse uma atitude contra websites e redes sociais que promoviam o fato.
Então, como eles penetraram a sociedade francesa? Eu acho que a resposta tem menos haver com o bombardeio de países muçulmanos do que com o completo fracasso da república francesa em se manter alinhada com seus princípios de Liberdade, Igualdade, Fraternidade, que são a base necessária para a laïcité.
Muitas vezes eu leio na imprensa inglesa, ou escuto de amigos britânicos, que a laïcité francesa seria um “mito fundacional” – como se a França vivesse sob a ilusão de que a religião pudesse ser erradicada de uma vez por todas. Isto não tem nada haver com laïcité propriamente dita. Laïcité não nega a ninguém o direito de expressar sua crença religiosa, mas tem como objetivo fundar a sociedade num contrato político que transcende crenças religiosas as quais, como resultado, tornar-se-iam meros assuntos privados. A grande maioria dos árabes franceses são profundamente, até mesmo irredutivelmente, laicos. Os imigrantes do norte da África que marcharam em Paris em 1983 não estavam fazendo exigências religiosas mas sim exigindo direitos iguais como cidadãos. Ah, se esses direitos tivessem sido efetivados!
Num belo livro entitulado La Démocratie de l’Abstention, dois sociólogos mostram que os cidadãos franceses que chegaram das antigas colônias votaram massivamente. Eles insistiram que seus filhos fizessem o mesmo, mas estes não estavam interessados. Décadas de segregação social e discriminação econômica deixaram evidente a eles que a palavra “Francês” em seu passaporte não significava nada – que não há igualdade, não há liberdade e evidentemente não há fraternidade.
O processo de desenraizamento foi gradual. As revoltas nos subúrbios começaram a explodir por volta dos anos de 1980, e ganharam força em 1990. Elas não tinham teve subtexto religioso: eles foram a expressão da raiva contra a discriminação e o assédio policial. Ainda assim, a necessidade de pertencimento é fundamental a condição humana: se a juventude francesa de ascendência árabe não podiam sentir que eles pertenciam à França, ao que eles pertenceriam? La Démocratie de l’Abstention descreve como o conflito entre Israel e Palestina – o qual já ocorria há décadas – repentinamente capturou a imaginação da juventude: era o seu Vietnam. Eles encontraram seus irmãos além mar.
A juventude é a época do auto-sacrifício e dos sonhos revolucionários. Em 1960, jovens franceses de classe média, que se sentiam alienados de deu milieu conservador idolatraram a revolução cultural de Mao – não menos niilistas do que os fundamentalistas islâmicos -, sonhavam em atirar bombas e algumas vezes assim o fizeram. Mas os maoístas de classe média pertenciam a uma classe privilegiada. Eles eram altamente educados. Eles tinham os meios intelectuais, econômicos e sociais para sair de sua loucura niilista de volta para o mundo.
A juventude desenraizada, esquecida, são um alvo fácil para doutrinadores dos mais variados tipos. A atual crise econômica, a qual golpeia com tudo a juventude, tem dado mais munição aos fanáticos: em meio aos jovens que se alistam para lutar pelo Daesh (ISIS), muitos são de fato brancos desenraizados sem qualquer vínculo familiar com o Islã. Presos na visão de mundo binária ocidente versus árabes, muitos deles tem tragicamente fracassado em reconhecer que um jornal como o Charlie Hebdo, o qual defendia a Palestina, pelas minorias étnicas, por direitos e pela justiça, estava do seu lado – um aliado valoroso: o fato de que o Charlie Hebdo ter zombado de sua fé foi o bastante para que seus jornalistas fossem mortos.
O ataque ao Charlie Hebdo será explorado por toda a extrema direita, e pelo governo que tentará usá-lo como uma oportunidade para criar uma falsa unanimidde numa sociedade profundamente dividída. Nos já escutamos o primeiro ministro Manuel Valls anunciar que a França estava em “guerra com o terror” – e isso muito me horroriza ao reconhecer as palavras de George W. Bush. Nós estamos tentando encontrar o caminho estreiro – defender a república contra as ameaças gêmeas do fundamentalismo e do fascismo. Mas eu ainda acredito que a melhor forma de enfrentar a questão é defender nossos ideais republicanos. Igualdade não significa nada em tempos de austeridade. Liberdade é tudo menos hipocrisia quando elementos da população francesa estão sendo rotineiramente discriminados. Mas a fraternidade está perdida quando a religião atropela a política como o princípio estruturante da sociedade. Charlie Hebdo promovia igualdade, liberdade e fraternidade – era parte da solução, não do problema.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

No dia mundial sem carro, o prefeito Fernando Haddad, pedalou de sua residência até a sede da prefeitura de SP, acompanhado de cicloativistas, assessores e do senador Suplicy. Na entrada da sede da prefeitura recebeu abaixo assinado dos cicloativistas pedindo mais ciclovias na cidade. Dia Mundial Sem Carro. 





SÃO PAULO/SP, Brasil – 22/09/2014 (Foto: Antonio Miotto)
 
Abraços

TONI

Sarau sobrenome liberdade comemora seus 2 anos

Sarau sobrenome liberdade comemora seus 2 anos

2º Aniversário Sobrenome Liberdade. SÃO PAULO/SP, Brasil – 24/09/2014 (Foto: Antonio Miotto)




Festival Sobrenome Liberdade – 2 anos!
antes de ser um movimento
sou paixão, coragem e mil ideias loucas.
eu sou o Levante.
e meu Sobrenome Liberdade

O Sarau Sobrenome Liberdade, comemorou[12/09/14] seu 2º Aniversário no Relicário Rock Bar [ zona zul]; Com a Intervenção sonora do DJ Roger; Varal e projeção de fotografias de diversos artistas; Show das bandas: Além da Ponte e Apologia Groove; Distribuição gratuita de cartões postais do Projeto Praga.
O grande lema da comemoração foi "Nosso tempo é agora. Vamos juntos! Além de toda POESIA, viveremos"

 
O CicloBR, organizou o 9º Desafio Intermodal[18/09/2014] pretendendo mostrar as diversas possibilidades de locomoção com onze participantes, utilizando diferentes modais, como carro, moto, bicicletas, cadeira de rodas, além de pessoas integrando ônibus, metrô e trem. Com saída na Praça Gen. Gentil Falcão [z sul] e chegada na Pref. De SP [centro]. 

Foto Toni Mioto

Resultados do 9º Desafio Intermodal SP
1º Bike por vias rápidas - Ricardo Bruns - 20min09seg
2º Moto - Victor Campos - 23min07seg
3º Bike dobrável + Metrô - Thiago Benicchio - 46min15seg
4º Ônibus - Paulo - 53min58
5º Carro - Roberto Sekya - 59min45seg
6º Trem + Metrô - Maria Salete - 01h02min19seg
7º Cadeirante + Transporte Público - Kal Brynner -01h03min24seg
8º Pedestre correndo - Tatiana Lowenthal - 01h04min55seg
9º Ciclista vias calmas - Jilmar Tatto - 01h27min03seg
10º Skate - Eduardo Arcas - 01h32min45seg
11º Pedestre caminhando - Luciana Nascimento - 01h45min08seg

 9º DESAFIO INTERMODAL SÃO PAULO - SÃO PAULO/SP, Brasil – 19/09/2014: (Foto: Antonio Miotto)
 
Abraços

TONI

segunda-feira, 22 de setembro de 2014